As irmãs Cahen d´Anvers em pinturas de Renoir
Pierre
Auguste Renoir - Portrait Mademoiselle Irène Cahen d`Anvers (Little Irene),
1880 – óleo sobre tela - 65 x 54 cm - Foundation E.G. Bührle, Zuric
O rico banqueiro Louis Raphael Cahen d'Anvers, encomendou
três retratos a Pierre Auguste Renoir (Limoges, 25 de Fevereiro de 1841 –
Cagnes-sur-Mer, 3 de Dezembro de 1919) em 1880, um de cada uma de suas filhas. Renoir
não negociou um preço antes de iniciar o seu trabalho. Ao completar o retrato
de Irène (então com 8 anos), os Cahens decidiram que não gostaram, e disseram a
Renoir para pintar as duas irmãs mais novas de Irene (Alice e Elisabeth) juntas.
Louis Cahen pagou a Renoir meros 1.500 francos pelas duas pinturas (muito menos
do que realmente valiam, mesmo naquele tempo), e para adicionar insulto à
injúria, pendurou-as nos aposentos de seus servos. Renoir ficou furioso.
Aos 19 anos, Irène se casou com Moïse de Camondo, o último
de uma longa linhagem de banqueiros judeus do Império Otomano. Durante seu
casamento, seu retrato de Renoir foi pendurado em um dos hotéis dos Camondo.
Irène e Moïse tiveram dois filhos, Nissim e Béatrice durante o seu curto
casamento de cinco anos, antes de Irène se converter ao catolicismo e fugir com
o cavalariço dos Camondo, o conde Charles Sampieri em 1896. Irène conseguiu obter
um divórcio, dando a Moïse a custódia total de seus filhos, e Irène se casou
com Charles, tornando-se a condessa Irène Sampieri. O retrato voltou para a mãe
de Irène, Louise, durante o divórcio, e ela, por sua vez o presenteou para a
sua neta Béatrice, entre 1910 e 1933.
O filho de Irène se tornou um aviador do exército francês
durante a Primeira Guerra Mundial. Ele faleceu em batalha, em 1917. A filha de
Irène, Béatrice se casou e teve dois filhos. Moïse morreu em 1935 e a sua
fortuna ficou em grande parte para sua filha. Sua mansão e coleção de arte foram
doadas para uma fundação, para criar um museu em honra de seu filho, o Musée
Nissim de Comondo.
Em 1939, os nazistas invadiram a França. Como muitos outros,
Béatrice e seu esposo optaram por ficar em Paris, acreditando que sua riqueza e
status iriam protegê-los. Eles estavam errados, e em 1941 eles e seus filhos
(juntamente com a irmã de Irène, Elisabeth) foram enviados para Auschwitz, onde
foram todos mortos. Irène, agora separada de Charles, conseguiu se salvar,
escondendo-se atrás de seu sobrenome italiano e de sua religião. Sua outra
irmã, Alice, também sobreviveu ao holocausto e viveu até os 89 anos, falecendo em 1969,
em Nice.
O retrato, agora muito valioso, foi roubado da casa Reinach
em 1941 pela Reichsleiter Rosenberg Taskforce e tornou-se propriedade de Herman
Göring. Em 1945, os Aliados libertaram o retrato, e ele foi enviado para um
ponto de coleta em Munique. No final de 1946, o retrato começou a viajar com
outras pinturas liberadas, em uma exposição intitulada "Obras-primas de
coleções francesas encontradas na Alemanha e na Suíça", onde foi visto por
Irène. Ela conseguiu obter a posse da obra, pois a última posse legal era de
sua filha, de quem Irène era a herdeira. Em 1949, Irène a vendeu para Emil Georg
Bührle, que estava começando a colecionar obras de impressionistas franceses.
Ao longo dos próximos anos, Irène gastou o dinheiro obtido com a venda desse
retrato e toda a fortuna Camondo em cassinos no sul da França, até a sua morte
em 1963. Após a morte de Emil Georg Bührle, em 1956, o retrato foi finalmente doado
à Fundação E.G. Bührle em Zurique onde está agora em exposição.
Pierre Auguste Renoir - Rosa e Azul (As Meninas Cahen d´Anvers),
1881 – óleo sobre tela - 119 x 74 cm – Masp (Museu de Arte de São Paulo, Assis Chateaubriand,
Brasil)
A pintura Rosa e Azul (As Meninas Cahen d´Anvers), é considerada
um dos mais populares ícones da coleção do Museu de Arte de São Paulo, onde se
encontra desde 1952. Renoir retratou as duas filhas do banqueiro Louis Raphael
Cahen d’Anvers, a loira Elisabeth, nascida em dezembro de 1874, e a mais nova,
Alice, em fevereiro de 1876, quando tinham respectivamente seis e cinco anos de
idade. Alice recordou muitas décadas depois (quando então possuía o título de Lady,
por ter casado com o general Townsend of Kut), que o tédio das sessões era
compensado pelo prazer de vestir o elegante vestido de renda.
O título mais popular dessa obra (Rosa e Azul), que se
refere às cores dos vestidos das meninas, desde 1900, quando esteve exposta
na galeria Bernheim-Jeune, em Paris. O artista transmitiu com as cores e a
delicadeza de tonalidades, todo o frescor e a candura da infância. As meninas
quase se materializam diante do observador, a de azul com seu ar vaidoso, e a
de rosa com um certo enfado, quase beirando as lágrimas. As duas meninas,
impecavelmente penteadas e vestidas, seguram a mão uma da outra para maior
segurança. Usando vestidos de festa idênticos, com fitas, faixas e meias
combinando e os cabelos escovados em franjas perfeitas, Alice, com cinco anos
de idade, à esquerda, olha para o espectador como se estivesse para se
desmanchar em lágrimas, enquanto a irmã maior, Elisabeth, de seis anos, parece
um pouco mais confortável enquanto posa.
A obra, produzida por encomenda de Louis-Raphael Cahen
d'Anvers, pertenceu à coleção particular de sua família, em Paris. Foi
redescoberta, aparentemente abandonada, em um apartamento na capital francesa,
no ano de 1900, pelos marchands Bernheim-Jeune, passando a compor o acervo da
Galeria Bernheim-Jeune et Fils, também em Paris. Em seguida, a obra foi
sucessivamente vendida, até ser adquirida em 7 de julho de 1952, pelo Museu de
Arte de São Paulo, com recursos doados pelo fundador do museu, Assis
Chateaubriand. O retrato das meninas Cahen d’Anvers, além de possuir uma ampla
bibliografia e um vasto histórico de exibições, angariou também a simpatia dos
visitantes do MASP, tornando-se uma das mais populares e apreciadas obras do
museu e uma fonte de inspiração para outros pintores e para o público.
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