terça-feira, 20 de outubro de 2015

Análise de duas telas curiosas de Francisco Goya y Lucientes


Análise de duas telas curiosas de Francisco Goya y Lucientes


Francisco Goya y Lucientes - The Family of Infante Don Luis de Bourbon (La Familia del Infante Don Luis) – 1798 – óelo sobre tela - 248 cm x 330 cm - Fondazione Magnani Rocca, Corte de Maminao, Parma Italy


A tela contém uma cena familiar de Don Luis, tio do rei de Espanha Carlos IV em seu banimento de Arenas de San Pedro, a que estava condenado pela sua renúncia à carreira eclesiástica e posterior casamento morganático com Maria Theresa de Vallabriga. 

Em meados de Agosto de 1783 Goya se mudou para Arenas de San Pedro, a convite do Infante Don Luis, irmão mais novo de Carlos III, no exílio na cidade de Avila. O pintor manteve-se com a família até 19 de setembro para fazer inúmeros retratos individuais de membros da família. No ano seguinte, ele voltou para fazer esse retrato coletivo. Don Luis estava feliz na companhia do pintor e realmente feliz com as pinturas. O retrato de família é uma das primeiras obras-primas de Goya.

No centro da imagem estão Dona Maria Teresa de Vallabriga, esposa do Infante, sendo penteada por seu cabeleireiro. Ao lado, Don Luis de perfil, auto-absorvido com as cartas que são colocadas sobre a mesa. Atrás dele e também de perfil, seu filho, Dom Luis Maria de Borbón y Vallabriga, mais tarde cardeal e arcebispo de Toledo. Ao seu lado, a pequena Maria Teresa de Borbón y Vallabriga. Algumas senhoras da pequena côrte e o pintor em frente de seu cavalete completam este lado esquerdo da tela. O lado direito é ocupado por diferentes amigos e membros da corte de D. Luis ao lado de uma ama de leite segurando uma criança nos braços.

Goya criou uma atmosfera maravilhosa através da luz, e do ambiente descontraído como deveriam ser as noites de Don Luis. A composição é organizada através de duas diagonais que se cruzam no centro, lugar ocupado pela Dona Maria Teresa. As qualidades de tecidos e acabamentos foram representados soberbamente, abrindo as portas para Goya como o retratista mestre da Côrte.


Francisco Goya y Lucientes - Charles IV de Espanha e Sua Família (Charles IV of Spain and his family) – 1800 – óleo sobre tela - 280 cm x 336 cm – Museo Nacional del Prado, Madri


Esta é uma das pinturas mais famosas do artista. Em 1799, aos 54 anos, Goya foi nomeado Primeiro Pintor da Côrte. Foi nessa época que ele pintou “Charles IV de Espanha e Sua Família”, na primavera e verão de 1800, em Aranjuez e Madri. Goya completou esta pintura, inspirada no estilo casual da tela “Las Meninas” (1656) de Velázquez, para a família real da Espanha, cuja composição enigmática e complexa levanta questões sobre realidade e ilusão, criando uma relação incerta entre o observador e as figuras representadas e por mostrar o artista incluído na cena, pintando a tela, de frente para o espectador. Por essas complexidades, "Las Meninas" é uma das obras mais analisadas da pintura ocidental.

Esse blog possui um artigo sobre a pintura "Las Meninas" de Velázquez. Clique sobre o link abaixo para ver:

http://www.arteeblog.com/2016/04/analise-de-las-meninas-de-diego.html

Embora os personagens da pintura estejam em poses naturais e plausíveis, estão ostensivamente vestidos com suas melhores roupas e jóias. Os críticos modernos têm muitas interpretações sobre o estilo da pintura e colocação das figuras. A obra de Goya, e a aparência dos personagens pode ser seu comentário sobre o reinado do Rei Carlos IV. Além disso, a colocação da Rainha María Luisa de Parma (1751-1818) no centro da pintura pode ser uma indicação do seu poder real.

A família real, aparentemente, está visitando o estúdio do artista, e Goya pode ser visto à esquerda olhando para o espectador. Como em "Las Meninas", o artista é mostrado trabalhando em uma tela, da qual apenas a parte traseira é visível. No entanto, a atmosfera calorosa do interior do palácio da obra de Velázquez é substituída na de Goya por um sentido de desconforto disfarçado.

Ladeando os Reis estão os seus filhos: o infante Francisco de Paula (1794-1865) e a infanta María Isabel (1789-1848). À esquerda estão o Príncipe das Astúrias e futuro Fernando VII (1784-1833) vestindo azul, o infante Carlos María de Isidro (1788-1855), que foi o segundo na sucessão ao trono, a infanta María Josefa (1744-1801), que era irmã do rei e um jovem não identificado. À direita estão o infante Antonio Pascual (1755-1817) irmão do Rei, um perfil de Carlota Joaquina (1775-1830), Rainha de Portugal e filha mais velha dos Reis e o príncipe e a princesa de Parma, a infanta María Luisa (1782-1824) segurando seu filho Carlos Luis (1799-1883) e seu marido, Luis de Bourbon, o futuro rei da Etruria.

Goya não apresenta seus modelos como ele os via. Ele os apresenta como eles viam a si mesmos. Ele registra a evidência incontestável fornecida pelos próprios modelos. Não temos nesta pintura uma imagem esteticamente condicionada para que o artista assuma total responsabilidade. O artista abdicou de sua prerrogativa tradicional, a de interpretar a realidade, reformulando-a de acordo com os ditames de seu estilo pessoal. Goya abandona a posição de um agente que transmite uma realidade idealmente transformada por meio de um ato inspirado da criação. Em vez disso, ele testemunha a existência de certos fenômenos, sem se dignar a envolver-se na interpretação significativa das verdades a que ele testemunha.

Goya é parte da pintura, em pé na parte de trás, onde ele não pode ver o tema, olhando diretamente para nós, é como se fossemos um espelho. Toda a família ali com Goya, olhando-se no espelho, enquanto Goya pinta o grupo a partir do reflexo. A composição de Goya, a maneira como ele organiza a pintura, praticamente diz: "Eu vos dou um reflexo da família de Carlos IV, e não uma interpretação idealizada". Ele está nos mostrando o que realmente está lá.


Diego Velazquez – Las Meninas – 1656 – óleo sobre tela - 318 x 276 cm - Museo del Prado, Madrid




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