quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Análise de “Dali de Trás Pintando Gala de Trás Eternizada por Seis Córneas Virtuais Provisoriamente Refletidas por Seis Espelhos Reais”, com vídeo

Salvador Dali – “Dali de Trás Pintando Gala de Trás Eternizada por Seis Córneas Virtuais Provisoriamente Refletidas por Seis Espelhos Reais” – 1973 – óleo sobre tela – 60,5 x 60,5 cm - © Salvador Dalí, Fundació Gala-Salvador Dalí, Figueres

Análise de “Dali de Trás Pintando Gala de Trás Eternizada por Seis Córneas Virtuais Provisoriamente Refletidas por Seis Espelhos Reais”, com vídeo

Esse é um trabalho estereoscópico, um exemplo das experiências que Dalí realizou na década de setenta. Através do estereoscópio, o artista desejava alcançar a terceira dimensão e obter o efeito de profundidade. Como em Las Meninas de Velazquez, o pintor também aparece em sua própria criação.
Dali explora perspectiva e observação em uma pintura sobre o ato de pintar, e sobre maneiras de ver. O artista espanhol era fascinado pela percepção e era um entusiasmado experimentador precoce de 3D.

Uma das maiores obras de Dali, essa não é uma pintura surrealista óbvia. Pelo contrário, o que parece muito real se torna irreal através da interpretação. Este exercício em si é outro jogo sutil que existe em toda as obras de Salvador Dali. A percepção nunca é apenas a percepção, e o que parece ser algo é quase sempre outra coisa.

Este trabalho é um exemplo brilhante de domínio da técnica na pintura de Dali. O título do trabalho é típico das suas pinturas, muito longo, descritivo, e um pouco surreal. É uma descrição subjetiva, ou seja, "O que eu estou vendo agora é como eu quero que você veja isso".

O que quer dizer o título "Seis Córneas Virtuais" e "Seis Espelhos Reais”? Vemos o pintor, e sua tela, vazia. Vemos o reflexo de Dali e Gala no espelho, e em ambos falta seu olho direito. Vemos seu olho esquerdo, 2 olhos. Podemos inferir que os espectadores do espelho, Dali e Gala, também têm dois olhos cada (que não vemos), que somam quatro, mais dois é igual a seis. Estes são os olhos, são as córneas, e eles também são os espelhos. Os olhos são reflexos, mas o que eles estão refletindo, aparentemente, é uma Gala imortalizada. O que Dali vê é um Dali incompleto e uma Gala incompleta, que serão concluídos por meio de sua pintura. O espelho na pintura é a pintura, é o que Dali vê, e o que ele vê é Gala-Dalí inacabada, ou seja, no processo de tornar-se, não feita, mas imortal.

O importante aqui é que o próprio Dali não pode ver este casal eternizado, ele precisa de algo mais para "olhar através de", e o espelho é o símbolo disso, mas não é o olhar através de aparatos. O que Dali precisa ver é seu reflexo sobre si mesmo. Ele precisa de Gala para fazer isso, para projetar seus pensamentos sobre ela e através dela, poder ver os dois. Imagine alguém sentado ao seu lado, enquanto você está pintando. Ele não pode ver sua pintura. Por um momento vocês fazem contato visual, naquele momento você infere o que o outro pode estar pensando sobre você. Então através desse olhar você tem uma idéia sobre si mesmo. Para Dali isso significa imortalizar Gala. Nesse momento íntimo ele está vivendo através de sua criação de Gala, uma criação que vemos como "inacabada", ele nunca pode terminá-la, porque ela é eterna.

Dali, muitas vezes considerado como imprevisível e explosivo, era na verdade rigorosamente constante em alguns níveis. Um deles era definitivamente sua reverência para com Gala, que considerava a influência mais importante em sua vida. Ela foi sua musa durante praticamente toda a sua vida adulta, e ele pintou inúmeros retratos dela. Ele nunca foi o mesmo depois de sua morte, em 1982.

Gala Dalí (Kazan, 7 de setembro de 1894 — Port Lligat, 10 de junho de 1982), mais conhecida simplesmente como Gala, foi a esposa de Paul Éluard, e depois de Salvador Dalí, e uma inspiração para eles e muitos outros escritores e artistas. Gala nasceu Elena Ivanovna Diakonova ,em Kazan, Kazan Governorate, Império Russo, em uma família de intelectuais.

Salvador Dali - "Eu chamo minha esposa: Gala, Galushka, Gradiva. Oliva, pela forma oval do seu rosto e a cor de sua pele. Oliveta, diminutivo de Olive e seus derivados delirantes Oliueta, Oriueta, Buribeta, Buriueteta, Suliueta, Solibubuleta, Oliburibuleta, Ciueta, Liueta. Também a chamo Lionette, porque quando ela fica com raiva, ela ruge como o leão da Metro-Goldwyn-Mayer".

Assista os vídeos com fotos de outras obras de Gala retratada por Dali e fotos dos dois:



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