terça-feira, 21 de novembro de 2017

Análise da pintura de René Magritte - Time Transfixed (O Tempo Trespassado)

René Magritte - Time Transfixed (La Durée Poignardée), 1938 – óleo sobre tela – 147 x 98,7 cm – The Art Institute of Chicago, USA


Análise da pintura de René Magritte - Time Transfixed (O Tempo Trespassado)


Esta é uma das pinturas mais conhecidas de Magritte. Nela, a visão de uma sala é limitada, dominada por um espelho sobre uma lareira. Em cima da lareira há um relógio (simbolizando o mistério do tempo) e saindo da lareira, há uma locomotiva a vapor, “destruindo” a paz da sala e viajando através do tempo.

O colecionador Edward James, impressionado com as pinturas de René Magritte na Exposição Surrealista Internacional de 1936, convidou o artista para pintar telas para o salão de baile de sua casa londrina. Uma delas foi essa pintura. O artista mais tarde explicou esta imagem: "Eu decidi pintar a imagem de uma locomotiva ... Para que seu mistério fosse evocado, outra imagem imediatamente familiar sem mistério, a imagem de uma lareira de sala de jantar, foi unida". A surpreendente justaposição e escala de elementos não relacionados, realçados pelo realismo preciso de Magritte, dão à imagem a sua inventividade e sedução. O artista colocou uma locomotiva na chaminé da lareira, para que pareça emergir de um túnel ferroviário.

O uso do surrealismo como meio, por Magritte, tem uma mensagem clara e um propósito como tal. Não é simplesmente fazer com que o absurdo pareça possível, trata-se de revelar o invisível. Através dos paradoxos em seu trabalho, ele encoraja seu público a buscá-lo e a entender melhor sua relação com ele. Magritte descreveu o processo para o quadro, explicando que a locomotiva veio primeiro e depois foi justaposta contra a lareira para evocar o seu mistério em comparação com a mundanidade dos arredores. Conseguir compreender o processo e o foco da Magritte torna mais fácil entender seu propósito também. Assim, o trem agora é o tempo atual, algo imortalizado como constantemente em movimento e empurrando para frente, quando na realidade ele não está indo a lugar nenhum.

Magritte não gostou da tradução inglesa do título francês original, La Duration Poignardé, que literalmente significa "tempo em andamento esfaqueado por uma adaga". Ele esperava que a pintura fosse instalada no pé da escada do colecionador, para que o trem "esfaqueasse" os hóspedes no caminho até o salão de baile. Ironicamente, em vez disso, James a instalou sobre sua lareira.


Esse blog possui um artigo sobre o marchand e colecionador Edward James e sobre sua propriedade na Inglaterra. Clique sobre esse link para ver:



René Magritte era um homem calmo e pensativo que preferia o anonimato. Passou a maior parte de sua carreira em Bruxelas, desenvolvendo um estilo de pintura meticuloso e realista que refletia seu treinamento inicial em arte comercial, pintando mármore falso e painéis de madeira para residências.
René François Ghislain Magritte (Lessines, 21 de Novembro de 1898 ― Bruxelas, 15 de Agosto de 1967) foi um dos principais artistas surrealistas belgas. Em 1912 sua mãe, Régina, cometeu suicídio por afogamento no rio Sambre. Magritte estava presente quando o corpo de sua mãe foi retirado das águas do rio. Em 1916, ingressou na Académie Royale des Beaux-Arts, em Bruxelas, onde estudou por dois anos. Foi durante esse período que ele conheceu Georgette Berger, com quem se casou em 1922. René Magritte praticava o surrealismo realista, ou “realismo mágico”. Começou imitando a vanguarda, mas precisava realmente de uma linguagem mais poética e viu-se influenciado pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico.

Sua arte caracteriza o amor surrealista aos paradoxos visuais: embora as coisas possam dar a impressão de serem normais, existem anomalias por toda a parte, e o surrealismo atrai justamente porque explora nossa compreensão oculta da esquisitice terrena. Pintor de imagens insólitas, às quais deu tratamento rigorosamente realista, utilizou processos ilusionistas, sempre à procura do contraste entre o tratamento realista dos objetos e a atmosfera irreal dos conjuntos. Suas obras são metáforas que se apresentam como representações realistas, através da justaposição de objetos comuns, e símbolos recorrentes em sua obra, tais como o torso feminino, o chapéu coco, o castelo, a rocha e a janela, entre outros, porém de um modo impossível de ser encontrado na vida real.

Magritte fez pinturas de objetos comuns em contextos incomuns, e assim criou sua própria forma de poesia para expressar seu inconsciente, de uma forma filosófica e conceitual. O artista, ao contrário dos outros surrealistas, era uma pessoa perturbadoramente comum, sempre vestindo um sobretudo, terno e gravata. Para Magritte suas pinturas não tinham qualquer significado, porque o mistério não tem significado. Ficamos apenas com o mistério e a incerteza, o que torna o trabalho dele mais misterioso e mais atraente.

Esse blog possui mais artigos sobre René Magritte. Clique sobre os links abaixo para ver:








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6 comentários:

  1. Betty, incrível! Adorei a explicação,sobre o quadro. Só não,percebi bem se a lareira faz parte dele, pois vc diz que o quadro,domiciliado sobre ela.
    Parabéns põe seu belo trabalho. Bj
    Miriam Menascé

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    1. Muito obrigada Miriam! Sim, a foto dessa postagem é a pintura inteira e a lareira faz parte dela. Nos dias atuais, a pintura está num museu, o Art Institute of Chicago. Na época em que foi adquirida, ela foi pendurada sobre uma lareira de verdade. Ficou a pintura de uma lareira sobre uma lareira de verdade.
      Bjosss

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  2. Excelente blog!!! Parabéns!! Muito rico e produtivo! Parabéns!!!!!

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    1. Muito obrigada Roberto Borba. Fico feliz por saber que meu trabalho está sendo apreciado. E agradeço também se puder compartilhar com mais pessoas. Abçs

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  3. Parabéns, acabei de assistir i r uma live do André Dorigo sobre Dalí , ele mencionou Magritte e cheguei aqui. Vi " os amantes" no MOMA há 3 meses e fiquei fascinada, ele é absurdamente intrigante, é nos desperta essa curiosidade de pensar sobre seus quadros . Adoro os surrealistas por essa dispretensão cheia de outras intenções, fazer refletir, pensar, cuticar. Obrigada.

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