René
Magritte - Time Transfixed (La Durée Poignardée), 1938 – óleo sobre tela – 147 x
98,7 cm – The Art Institute of Chicago, USA
Análise
da pintura de René Magritte - Time Transfixed (O Tempo Trespassado)
Esta é uma das pinturas mais conhecidas de Magritte. Nela, a
visão de uma sala é limitada, dominada por um espelho sobre uma lareira. Em
cima da lareira há um relógio (simbolizando o mistério do tempo) e saindo da lareira,
há uma locomotiva a vapor, “destruindo” a paz da sala e viajando através do
tempo.
O colecionador Edward James, impressionado com as pinturas
de René Magritte na Exposição Surrealista Internacional de 1936, convidou o
artista para pintar telas para o salão de baile de sua casa londrina. Uma delas
foi essa pintura. O artista mais tarde explicou esta imagem: "Eu decidi
pintar a imagem de uma locomotiva ... Para que seu mistério fosse evocado,
outra imagem imediatamente familiar sem mistério, a imagem de uma lareira de
sala de jantar, foi unida". A surpreendente justaposição e escala de
elementos não relacionados, realçados pelo realismo preciso de Magritte, dão à
imagem a sua inventividade e sedução. O artista colocou uma locomotiva na chaminé da lareira, para que pareça emergir de um túnel ferroviário.
O uso do surrealismo como meio, por Magritte, tem uma
mensagem clara e um propósito como tal. Não é simplesmente fazer com que o
absurdo pareça possível, trata-se de revelar o invisível. Através dos paradoxos
em seu trabalho, ele encoraja seu público a buscá-lo e a entender melhor sua
relação com ele. Magritte descreveu o processo para o quadro, explicando que a
locomotiva veio primeiro e depois foi justaposta contra a lareira para evocar o
seu mistério em comparação com a mundanidade dos arredores. Conseguir
compreender o processo e o foco da Magritte torna mais fácil entender seu
propósito também. Assim, o trem agora é o tempo atual, algo imortalizado como
constantemente em movimento e empurrando para frente, quando na realidade ele
não está indo a lugar nenhum.
Magritte não gostou da tradução inglesa do título francês
original, La Duration Poignardé, que literalmente significa "tempo em
andamento esfaqueado por uma adaga". Ele esperava que a pintura fosse instalada
no pé da escada do colecionador, para que o trem "esfaqueasse" os
hóspedes no caminho até o salão de baile. Ironicamente, em vez disso, James a
instalou sobre sua lareira.
Esse blog possui um artigo sobre o marchand e colecionador
Edward James e sobre sua propriedade na Inglaterra. Clique sobre esse link para
ver:
René Magritte era um homem calmo e pensativo que preferia o
anonimato. Passou a maior parte de sua carreira em Bruxelas, desenvolvendo um
estilo de pintura meticuloso e realista que refletia seu treinamento inicial em
arte comercial, pintando mármore falso e painéis de madeira para residências.
René François Ghislain Magritte (Lessines, 21 de Novembro de
1898 ― Bruxelas, 15 de Agosto de 1967) foi um dos principais artistas
surrealistas belgas. Em 1912 sua mãe, Régina, cometeu suicídio por afogamento
no rio Sambre. Magritte estava presente quando o corpo de sua mãe foi retirado das
águas do rio. Em 1916, ingressou na Académie Royale des Beaux-Arts, em
Bruxelas, onde estudou por dois anos. Foi durante esse período que ele conheceu
Georgette Berger, com quem se casou em 1922. René Magritte praticava o
surrealismo realista, ou “realismo mágico”. Começou imitando a vanguarda, mas
precisava realmente de uma linguagem mais poética e viu-se influenciado pela
pintura metafísica de Giorgio de Chirico.
Sua arte caracteriza o amor surrealista aos paradoxos
visuais: embora as coisas possam dar a impressão de serem normais, existem
anomalias por toda a parte, e o surrealismo atrai justamente porque explora
nossa compreensão oculta da esquisitice terrena. Pintor de imagens insólitas,
às quais deu tratamento rigorosamente realista, utilizou processos
ilusionistas, sempre à procura do contraste entre o tratamento realista dos
objetos e a atmosfera irreal dos conjuntos. Suas obras são metáforas que se
apresentam como representações realistas, através da justaposição de objetos
comuns, e símbolos recorrentes em sua obra, tais como o torso feminino, o
chapéu coco, o castelo, a rocha e a janela, entre outros, porém de um modo
impossível de ser encontrado na vida real.
Magritte fez pinturas de objetos comuns em contextos
incomuns, e assim criou sua própria forma de poesia para expressar seu
inconsciente, de uma forma filosófica e conceitual. O artista, ao contrário dos
outros surrealistas, era uma pessoa perturbadoramente comum, sempre vestindo um
sobretudo, terno e gravata. Para Magritte suas pinturas não tinham qualquer
significado, porque o mistério não tem significado. Ficamos apenas com o
mistério e a incerteza, o que torna o trabalho dele mais misterioso e mais
atraente.
Esse blog possui mais artigos sobre René Magritte. Clique
sobre os links abaixo para ver:
Texto escrito e/ou traduzido e/ou adaptado ©Arteeblog - não
copie esse artigo sem autorização desse blog, mas por favor o compartilhe,
usando os ícones de compartilhamento para e-mail ou redes sociais. Obrigada.
Betty, incrível! Adorei a explicação,sobre o quadro. Só não,percebi bem se a lareira faz parte dele, pois vc diz que o quadro,domiciliado sobre ela.
ResponderExcluirParabéns põe seu belo trabalho. Bj
Miriam Menascé
Muito obrigada Miriam! Sim, a foto dessa postagem é a pintura inteira e a lareira faz parte dela. Nos dias atuais, a pintura está num museu, o Art Institute of Chicago. Na época em que foi adquirida, ela foi pendurada sobre uma lareira de verdade. Ficou a pintura de uma lareira sobre uma lareira de verdade.
ExcluirBjosss
Excelente blog!!! Parabéns!! Muito rico e produtivo! Parabéns!!!!!
ResponderExcluirMuito obrigada Roberto Borba. Fico feliz por saber que meu trabalho está sendo apreciado. E agradeço também se puder compartilhar com mais pessoas. Abçs
ExcluirParabéns, acabei de assistir i r uma live do André Dorigo sobre Dalí , ele mencionou Magritte e cheguei aqui. Vi " os amantes" no MOMA há 3 meses e fiquei fascinada, ele é absurdamente intrigante, é nos desperta essa curiosidade de pensar sobre seus quadros . Adoro os surrealistas por essa dispretensão cheia de outras intenções, fazer refletir, pensar, cuticar. Obrigada.
ResponderExcluirObrigada por seu gentil comentário.
Excluir