James
Tissot - “In the Conservatory (Rivals)”, c. 1875 - 1876 – óleo sobre tela - 38.4 x 51.1 cm - coleção particular
A história da obra de James Tissot: “In the Conservatory
(Rivals)” ou “Na Estufa (Rivais)”
Nesta encantadora pintura de um encontro social, James
Tissot apresenta alguns dos esplendores que a riqueza disponibilizava na década
de 1870: plantas exóticas de todo o mundo, objetos de arte orientais e do
século XVIII e mulheres jovens atraentes, vestidas na última moda. É uma imagem
que mostra a ascensão meteórica de Tissot, desde que chegou à Inglaterra em
1871, e foi projetada para atrair os novos colecionadores, que foram parcialmente
fundamentais no seu rápido sucesso.
Tissot se estabeleceu em Londres, durante o segundo semestre
de 1871, quando encomendas de retratos e a London International Exhibition de
1872 ofereciam melhores perspectivas de trabalho e ganhos do que a Paris pós Commune
e Siege (O cerco de Paris, de 19 de setembro de 1870 a 28 de Janeiro 1871, e a
consequente captura da cidade por forças prussianas, levou à derrota francesa
na Guerra Franco-Prussiana e o estabelecimento do império alemão, bem como a
Comuna de Paris). Pinturas expostas por Tissot em 1872 foram abocanhadas por
colecionadores e isso resultou em um fluxo contínuo de pedidos. No início de
1873 Tissot foi capaz de arrendar uma grande casa com jardim na Grove End Road,
St John Wood, um subúrbio de Londres arborizado, onde muitos artistas moravam.
Ele encomendou ao jovem arquiteto escocês, John McKean Brydon, um projeto e a
construção de uma extensão da casa, com estúdio e Jardim de Inverno (estufa),
que dobrou o espaço do andar térreo da casa e proporcionou um ambiente
elegante, para entreter os amigos, clientes e imprensa crítica. O projeto de
Brydon, exibido na Royal Academy em 1874, mostra o grande estúdio com duas
janelas de sacada, que Tissot usou como cenário para inúmeras pinturas.
A entrada em degraus dá acesso através de portas de vidro
duplo ao jardim. Ao longo do comprimento do estúdio há uma estufa de altura
dupla, que preenche o fundo da obra “In the Conservatory”. Foi descrita como
separada do estúdio por um arranjo de divisórias de vidro e cortinas, que pode
ser visto claramente na pintura. Estufas eram utilizadas como extensões de
salas, mas precisavam de uma maneira de fecha-las de modo que o clima correto
pudesse ser mantido para as plantas exóticas.
James
Tissot - “In the Conservatory (Rivals)” – óleo sobre tela - 38.4 x 51.1 cm - detalhe
Duas jovens em vestidos formais próprios para a tarde, em
musselina plissada azul com chapéus combinando, dominam o centro da composição.
Uma sentada, tomando chá, suas luvas removidas fora de vista, os lábios
entreabertos como se estivesse dizendo algo para o casal sentado em frente, em cuja
direção ela olha. Este casal, à direita da pintura, sentam perto um do outro,
mas não interagem. O jovem de cabelos escuros parece encerrado em seus
pensamentos, a jovem mulher no vestido rosa e chapéu combinando, sem sorrir,
quase taciturna. Sua falta de interação é destacada por contraste com um par de
pé ao fundo, na estufa: um homem com bigode ruivo, sua cartola segura por trás
dele, olhando para a mulher ao lado dele, vestida com vestido de musselina
branca com decoração de fita amarela. Ela olha para baixo e segura em sua mão
direita um leque aberto que cobre a parte inferior do rosto. Os dois estão
absortos um no outro e há claramente uma forma de conversação ou flerte entre
eles.
Algumas pessoas interpretam o par no primeiro plano à
direita como sendo a mãe das meninas vestidas de azul e um pretendente com
pouco entusiasmo por elas. Mas ela parece muito jovem para ser a mãe, embora pudesse
ser uma dama de companhia casada, e sua linguagem corporal sugere que ela e o
jovem são um casal, ainda que, entre eles paire uma atmosfera gelada. Eles
tiveram uma discussão, talvez antes delas chegarem, ou o jovem disse algo de
cortesia, ou mostrou atenção indevida, a uma ou mais das jovens vestidas de
azul? Tissot é o mestre contador de histórias, plantando pistas instigantes
através de gestos, expressões e detalhes incidentais, mas deixando seus contos
visuais ambíguos e abertos a diferentes interpretações.
Ao fazer os espectadores imaginando o que foi dito ou está
prestes a acontecer, Tissot mantém seus quadros frescos e relevantes, para que cada
espectador traga as suas próprias experiências e sentimentos em sua
interpretação da obra. Isso faz com que as imagens de Tissot sejam tão
fascinantes e populares para as audiências modernas como eram para os seus
contemporâneos. A especulação quanto ao seu conteúdo e significado também levou
a vários títulos diferentes sendo dados às obras de Tissot por proprietários e
marchands. "Rivais", embora seja um título que Tissot deu a uma
pintura diferente, poderia se aplicar aqui entre a jovem de vestido rosa e as
duas garotas vestidas de azul. "Chá da tarde" é a ocasião social.
No centro da pintura, a segunda jovem em musselina azul, com
decorações de fita mais escuras do que a primeira, está por trás de uma pequena
mesa Biedermeier, para onde uma bandeja com xícaras de chá foi trazida. Ela
possui um leque fechado na mão direita enluvada e olha para o espectador, os
lábios entreabertos como se estivesse dizendo algo, sua mão esquerda na bandeja
de chá, prestes a levantá-la e oferecer-nos uma xícara. O espectador está sendo
convidados para a reunião, há um banquinho de espera. É possível que as duas
jovens em azul sejam irmãs, pois nessa época. irmãs (não apenas gêmeas) muitas
vezes usavam vestidos iguais.
Jardins de Inverno (ou estufas) como o de Tissot eram uma
símbolo máximo de riqueza e luxo, sua construção de vidro e metal era cara. Plantas
exóticas de todo o mundo eram caras para comprar, mas eram muito mais caras
para manter, especialmente a rega das plantas e o aquecimento do seu ambiente
através de um sistema de tubos de água quente escondidos. A estufa de Tissot
transborda com espécimes fabulosos, dispostos a justapor formas, tamanhos e
tons de verde, com uma dispersão de cor de camélias e outras plantas com flores.
Os franceses eram famosos por seu arranjo artístico de plantio em parques,
jardins e estufas durante o século 19, e Tissot exibe seu próprio talento e
paixão pela arte em suas pinturas da estufa e jardim em Grove End Road.
James
Tissot - "The Bunch of Lilacs" – 1875 – óleo sobre tela - 53,4 x 38,1 cm - coleção particular
O traje de musselina com fitas azuis mais escuras é usado
novamente em "The Bunch of Lilacs", no interior da estufa de Tissot. Aqui, a
jovem retirou o chapéu, segurando-o pela corda em seu dedo mindinho esquerdo,
deixando a mão esquerda apoiar o jarro de lilases que ela segura pela alça em
sua mão direita. O piso de azulejos polidos reluzentes, vislumbrado no fundo da
imagem do chá da tarde, é mostrado com perfeição, com a jovem e plantas ao
redor espelhados em sua superfície. Vários objetos orientais são vistos nas
duas pinturas, como uma lanterna oriental, gaiola, um grande queimador de
incenso em bronze, um pote de cerâmica azul e branco em um suporte. Tissot era
um grande colecionador de arte oriental em Paris, e depois em Londres. Algumas
de suas cerâmicas chinesas e japonesas, têxteis, fotografias e outras obras de
arte aparecem em inúmeras pinturas.
James Tissot – "The Fan" – 1875 – óleo sobre tela - 38,1 x 48,3 cm - Wadsworth Atheneum Musum of Art, Hartford, Connecticut, USA
Esta pequena pintura usa a mesma modelo loira (embora diferentemente
vestida), com um nariz delicado e queixo pontudo, que é vista bebendo chá no
lado esquerdo da pintura “In the Conservatory (Rivals)”, e era uma das
favoritas antes do artista conhecer o grande amor de sua vida, Kathleen Newton,
por volta de 1876.
James Joseph Jacques Tissot (Nantes, 15 de outubro de 1836 –
Buillon, 8 de agosto de 1902) foi um pintor francês. Tissot expôs no Salão de
Paris pela primeira vez aos 23 anos. A característica do seu primeiro período
foi como pintor dos charmes femininos. Demi-mondaine seria a forma mais acurada
de chamar uma série de estudos que ele chamou de La Femme a Paris (A mulher em
Paris). Lutou na Guerra Franco-Prussiana e, sob a suspeita de ser comunista,
deixou Paris em direção a Londres. Lá estudou com Seymour Haden, desenhou
caricaturas para a Revista Vanity Fair, pintou retratos e também telas
temáticas. Seu trabalho mais grandioso foi a produção de mais de 700 aquarelas
ilustrando a vida de Jesus e sobre o Velho Testamento.
Veja mais informações sobre James Tissot no artigo desse
blog: Histórias da História da Arte: Kate Newton e o pintor James Tissot. Clique sobre o link:
http://www.arteeblog.com/2014/07/historias-da-historia-da-arte-kate.html
Tissot fez mais uma pintura com esse título, ambientada na
sua estufa, onde retratou seu grande amor, Kate Newton fazendo crochê e
conversando com dois senhores.
James Tissot – Rivals, c. 1878 – 1879 – óleo sobre tela – 92
x 68 cm – coleção particular
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