quinta-feira, 21 de julho de 2016

Lasar Segall, sua arte e sua história

Lasar Segall – Bananal, 1927 – óleo sobre tela – 87 x 127 cm - Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil


Lasar Segall, sua arte e sua história


Lasar Segall - Doppelbildnis Margarete und Zoe [Duas Amigas], c. 1917 – óleo sobre tela – 85 x 79 cm


Lasar Segall (Vilna, Lituânia, 21 de Julho de 1889 - São Paulo, Brasil, 2 de Agosto de 1957) foi um pintor, escultor, gravador e desenhista. Iniciou seus estudos em Vilna, capital da Lituânia, que na época estava sob o domínio da Rússia czarista. Seu pai era escriba da Torá, lei judaica contida nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, cujo texto, manuscrito em pergaminho, é utilizado em cerimônias religiosas nas sinagogas. Estudou depois em Berlim e Dresden, onde ampliou seu contato com a pintura impressionista e realizou, em 1910, a primeira mostra individual na Galeria Gurlitt.


Lasar Segall – Família, 1922 – aquarela e guache sobre papel – 44,8 x 43,7 cm


No final de 1912, veio para o Brasil, onde já residiam 3 de seus 7 irmãos. No ano seguinte expôs em São Paulo e Campinas. No mesmo ano retornou à Europa. Inicialmente, realizou uma pintura impressionista, com influência de Jozef Israël e de Paul Cézanne (1839-1906). A partir de 1914, passou a se interessar pelo expressionismo, desenvolvendo-se plenamente nessa estética em 1917. Em 1919, em Dresden, fundou com Otto Dix (1891-1969) e outros, o Dresdner Sezession Gruppe, que agregava artistas expressionistas da cidade. A pintura de Segall, sob o impacto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), refletia a preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano. Seus quadros são estruturados por meio de planos construídos em diagonais e apresentam uma tendência à geometrização, com o predomínio de formas triangulares, utilizando cores escuras e contrastantes.


Lasar Segall – Morro Vermelho, 1926 – óleo sobre tela – 115 x 95 cm


Em 1923 voltou ao Brasil, fixando residência em São Paulo, onde foi destaque no cenário da arte moderna, considerado um representante das vanguardas europeias e onde participou da Semana de Arte Moderna em São Paulo. Nos primeiros trabalhos realizados no país, revelou um deslumbramento pela luz e pelas cores tropicais, com temas de mães negras, paisagens e favelas, onde acentuou o drama dos marginalizados pela sociedade. Foi no Brasil que, segundo suas próprias palavras, sua arte ficou como o "milagre da luz e da cor".


Lasar Segall - Retrato de Mário de Andrade, 1927 – óleo sobre tela – 72 x 60 cm - Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP (São Paulo, SP)


 Lasar Segall - Perfil de Zulmira, 1928 – óleo sobre tela – 62,5 x 54 cm - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil


Separado de sua primeira esposa (Margarete), casou em 1925 com Jenny Klabin (sobrinha do seu cunhado e sua aluna) com quem teve os filhos Maurício Klabin Segall (que casou nos anos 50 com a atriz Beatriz de Toledo, posteriormente Beatriz Segall) e Oscar Klabin Segall. Nessa época, passou a viver com a família em Paris, onde se dedicou também à escultura. Suas obras nessa fase mostram uma atmosfera familiar e de intimidade. Com cores fortes procurou expressar as paixões e sofrimentos dos seres humanos. Seus personagens são mulatas, prostitutas e marinheiros. Suas paisagens são favelas e bananeiras. Anos mais tarde dedicou-se à escultura em madeira, pedra e gesso.


Lasar Segall – Casa do Mangue, 1929 – xilogravura – 31,5 x 42 cm - Museu Lasar Segall


Lasar Segall – Grupo, 1934 – bronze – 35,5 x 45 cm - Museu Lasar Segall


Em 1932, Segall retornou ao Brasil e se instalou em São Paulo, na casa projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik, seu concunhado. Essa casa abriga, atualmente, o Museu Lasar Segall, cujo acervo é formado por 3.119 trabalhos originais do artista, doados por seus filhos Maurício Segall e Oscar Klabin Segall, e por seu neto Mário Lasar Segall. Nesse mesmo ano foi um dos criadores da extinta Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM) na capital paulista, da qual se tornou diretor até 1935. A ideia central da SPAM era servir como um elo entre artistas, intelectuais, colecionadores, mecenas, e o público. A SPAM também foi criada para servir como um ambiente público para a arte de vanguarda no Brasil.



Lasar Segall – Navio de Emigrantes, 1939 – óleo sobre tela – 230 x 275 cm – Museu Lasar Segall


Em 1932, Lasar Segall desenhou uma série de móveis para sua residência da Rua Afonso Celso. Todos os móveis são em madeira, pintada com tinta preta, e os assentos estofados em tecido de linho bege. As linhas são retas, e o design se caracteriza pela sobriedade e funcionalidade, em nítida filiação com o espírito da Bauhaus. Apesar do pequeno número destas peças, sua qualidade e contemporaneidade permitem incluir Lasar Segall no reduzido grupo de designers modernistas, ao lado de Warchavchik, John Graz e Flávio de Carvalho.


Lasar Segall – Campos do Jordão, 1942 – óleo sobre tela – 73 x 100 cm 


Entre 1926 e 1929, realizou no Brasil a série Mangue, onde abordou o tema da prostituição, com um predominante clima de tensão, estabelecido pela presença de elementos como persianas e cortinados ou por ambientes opressivos onde se situam os personagens. A série Emigrantes, 1927/1928 possui uma atmosfera mais amena, onde surgem espaços abertos com a representação do céu e do mar. A produção de Segall na década de 1930 incluiu uma série de paisagens de Campos do Jordão e retratos da pintora Lucy Citti Ferreira. Os temas ligados a dramas humanos permanecem em quadros de grandes dimensões, como “Navio de Emigrantes”, 1939/1940. 


Lasar Segall - Lucy com a Mão nos Cabelos, 1939 – óleo sobre tela – 46 x 38 cm


Lasar Segall e a modelo Lucy Citti Ferreira, 1940. Foto: Hildegard Rosenthal


Na década de 1950, a arte de Segall revela mais liberdade plástica, aproximando-se da abstração. O humanismo, revelado pela preocupação com a violência, a miséria e as injustiças sociais, e certo caráter lírico estão presentes em toda a sua carreira. Segall abordou temas universais, expressando-os com emoção, por meio da cor em sua pintura ou pelo jogo entre linha e vazio em suas produções gráficas.


Lasar Segall – Favela, 1954 – óleo sobre tela – 65 x 50 cm – Museu Lasar Segall


Lasar Segall – Rua de Erradias, 1956 – óleo sobre tela – 116 x 147 cm – Coleção Oscar Klabin Segall, São Paulo, Brasil



“A arte surge da ânsia de comunhão e compreensão entre homem e homem, homem e sociedade, homem e mundo ... a arte é assim uma linguagem universal” – Lasar Segall (Diário Nacional, 26 de Outubro de 1928)


Ultimo retrato de Lasar Segall, 1957. Foto: Luís Lorch


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