Edvard
Munch – The Kiss – 1902 – xilogravura - 47 × 77 cm – The Munch Museum
Gravuras: o que são, os tipos e exemplos
Jost Amman -
Block Cutter at Work – 1568 - xilogravura
Gravura é uma imagem obtida através da impressão a partir de
uma matriz artesanal. A gravura é um múltiplo. As gravuras têm valor artístico por
serem totalmente originais e realizadas artesanalmente. Foram realizadas por
grandes artistas desde o final do século XV. O material da matriz é o que
classifica o tipo da gravura. O resultado das técnicas de impressão é a
transferência da imagem da matriz para outro tipo de suporte, como papel ou
tecido. Cada gravura é numerada e assinada uma a uma, compondo uma edição
restrita.
Rhinoceros - Albrecht Durer – 1515 – xilogravura - British
Museum, London
Cada gravura é única em si e é uma obra original assinada. O
fato de haver várias unidades da mesma imagem, nada tem a ver com a questão de
sua originalidade. Ao contrário disso, a arte da gravura está justamente na
perícia da reprodução da imagem e na fidelidade entre as unidades, por ser um
processo totalmente artesanal.
Além do trabalho do artista, há também o do impressor. É ele
quem domina os segredos do processamento da matriz e da sua reprodução fiel. Há
artistas impressores também, mas em geral, a gravura é fruto de um trabalho em
conjunto do artista e do impressor.
Rembrandt - The three trees – 1643 - gravura a água forte
As gravuras são assinadas, numeradas e datadas pelo próprio
artista. Em geral a numeração aparece no rodapé da gravura, da seguinte forma:
1/100, por exemplo, indicando o número do exemplar (1) e quantas cópias foram
produzidas daquela imagem (100). Grandes edições não chegam a 300 cópias, mas
em geral o número é muito menor, devido ao desgaste da matriz durante a
tiragem. Quanto menor for o numero do exemplar, mais valorizada é a gravura,
pois as primeiras a serem feitas sairam de uma matriz menos desgastada. Muitas
vezes as 2 ou 3 primeiras são reservadas para o artista, recebendo a sigla P.A.
(Prova do Artista).
Esquerda: Francisco
Goya y Lucientes – “Que sacrificio!” – água forte e aquatinta
Direita: Francisco
Goya y Lucientes – “El si pronuncian y la mano alargan Al primero que llega” - água forte e aquatinta
A matriz da gravura recebe um processo de incisão (riscos ou
gravações na superfície) formando assim um alto ou baixo relevo, onde a tinta
será espalhada, obtendo-se assim dois possíveis tipos de gravura: em encavo (o
sulco recebe a tinta e aparece como positivo no trabalho final) ou em relevo (a
superfície em alto relevo é que recebe a tinta, e o sulco aparece em negativo,
sem a presença da tinta).
São considerados precursores da gravura os artistas dos séculos
XV a XVIII (até 1830) que iniciaram a arte da gravura dentro da tradição
ocidental. As principais técnicas utilizadas nesse período foram a xilogravura,
a gravura em metal e água-forte. Raramente as gravuras eram feitas em papel,
mas sim em tecido. Muitos artistas europeus como Albrecht Dürer, Rembrandt e
Francisco Goya trabalharam com gravura. A fama internacional desses artistas,
na época em que viveram, veio principalmente de suas gravuras, que eram mais
populares que suas pinturas. Hoje em dia acontece o oposto: museus e galerias
popularizaram suas pinturas enquanto as gravuras, por razões de conservação,
são raramente exibidas.
Palácio de São Cristóvão, residencia dos Imperadores do Brasil
- Jean-Baptiste Debret – século XIX – litogravura
Na atualidade em que a tecnologia é usada para tudo, a
gravura resgata o bom gosto pelo trabalho artístico, feito manualmente, sem
mecanização e em um processo milenar. A gravura é uma forma acessível de ter
adquirir uma obra original de um grande artista.
M. C.
Escher – Tower of Babel – 1928 – xilogravura - 62.1 cm × 38.6 cm
Tipos de gravura:
The Great
Wave off Kanagawa - Katsushika Hokusai - c. 1829–32 – xilogravura colorida - 25.7
cm × 37.8 cm
Xilogravura:
A Xilogravura é a técnica mais antiga para produzir
gravuras, e seus princípios são muito simples. O artista retira de uma
superfície plana de madeira (a matriz), com o auxílio de ferramentas de corte e
entalhe (goivas) as partes que ele não quer que tenham cor na gravura. Após
aplicar tinta na superfície, coloca um papel sobre a mesma. Ao aplicar pressão
(com uma prensa) sobre essa folha a imagem é transferida para o papel. No fim do século XV, a xilogravura começou a ser usada em
ilustrações para livros (iluminuras) e para cartas de baralhos.
Oswaldo Goeldi – Chuva – c. 1957 - xilogravura a cores - 22
x 29,5 cm - Coleção Frederico Mendes de Moraes
J.Borges - Cordel - O casado namorador - Xilogravura - 50x65
Linoleogravura:
Esta técnica assemelha-se ao entalhe da Xilogravura, no
entanto, ao invés de madeira, a matriz é de material sintético - placas de
borracha, chamadas "linóleo". Esta técnica é mais recente do que a
Xilogravura devido ao material de sua matriz, e foi muito utilizada pelos
artistas modernos, como Picasso por exemplo.
Gravura
em metal:
A técnica da Gravura em metal começou a ser utilizada na
Europa no século XV. As matrizes podem ser feitas a partir de placas de cobre,
zinco, alumínio ou latão. Estas são gravadas com incisão direta ou pelo uso de
banhos de ácido. Água-forte, água-tinta, ponta seca são as técnicas mais
usuais. A matriz recebe a tinta e uma prensa é utilizada para transferir a
imagem para o papel.
A gravura em metal era parte da arte do ourives por toda a
Idade Média e a ideia de imprimir a gravura em metal no papel veio da
possibilidade de usá-la como meio de registrar os desenhos que eram vendidos. A
gravura em metal é uma das mais antigas técnicas de gravura. Existem obras
nesta técnica datadas de 1500, produzidas por vários gênios da Renascença, como
o alemão Albrecht Dürer.
Edward
Hopper - Night on the El Train – 1918 – gravura em metal
Uma maneira de fazer uma gravura em metal é com ferramentas,
como a ponta seca, um instrumento de metal semelhante a uma grande agulha que
serve de "caneta ou lápis". A ponta seca risca a chapa, que tem a
superfície polida, e esses traços formam sulcos, micro concavidades, de modo a
reterem a tinta, que será transferida por meio de uma grande pressão, ao passar
por uma prensa de cilindro conhecida como prensa calcográfica, imprimindo
assim, a imagem no papel. A impressão da imagem gravada em encavo baseia-se na
retirada da tinta que se encontra nos sulcos gravados, o que exige uma
considerável pressão mecânica e portanto equipamento adequado, que difere do
tipográfico ou da impressão manual, empregada na xilogravura. Além de ferir a
chapa de cobre com a ponta seca, obtendo o desenho, a chapa também pode receber
outras ferramentas diretas, como o buril e o roulette.
Evandro Carlos Jardim - A tarde a sombra – 1976 - água-forte
e água-tinta - 29,1 X 42,8
Outras maneiras de fazer gravura em metal são água-forte e
água-tinta , os produtos químicos conhecidos por mordentes (ácido nítrico ,
percloreto de ferro etc.) que atacam as áreas da matriz que não foram isoladas
com verniz, criando assim outro tipo de concavidades, e consequentemente,
efeitos visuais. Desta forma, o artista obtém gradações de tom e uma infinidade
de texturas visuais. Consegue-se uma gama de tons que vai do mais claro, até o
mais profundo escuro. Estes procedimentos podem ser usados em conjunto.
M. C.
Escher – Hand with Reflecting Sphere - 1935 – litogravura - 31.8 cm × 21.3 cm
Litografia ou litogravura:
A técnica da Litografia parte do princípio químico que água
e gordura se repelem. As imagens são desenhadas com material gorduroso sobre
pedra calcária e com a aplicação de ácido sobre a mesma, a imagem é gravada.
Assim como a gravura em metal, essa técnica também necessita de uma prensa para
transferir para o papel a imagem gravada na pedra.
Roy
Lichtenstein - Girl with Hair Ribbon – 1965 – litogravura
Ao contrário das outras técnicas da gravura, a Litografia é
planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a
superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz, como na
xilogravura e na gravura em metal.
Henri de Toulouse-Lautrec
- Jane Avril – 1893 - litogravura impressa em 5 cores - 129.1 x 93.5 cm
A Litografia foi usada extensivamente nos primórdios da
imprensa moderna no século XIX para impressão de toda sorte de documentos,
rótulos, cartazes, mapas, jornais, dentre outros, além de possibilitar uma nova
técnica expressiva para os artistas. Pode ser impressa em plástico, madeira,
tecido e papel. Sabe-se que o primeiro pintor que utilizou com sucesso a
técnica de litografia foi Goya, em sua série Touradas, de 1825. Este técnica
atingiu seu apogeu nas últimas décadas do século XIX, quando diversos autores
franceses como Gustave Doré, Renoir, Cézanne, Toulouse-Lautrec, Bonnard, dentre
outros, promoveram uma renovação da litografia a cores.
Henri de Toulouse Lautrec - La Vache Enragee – 1930 -
litogravura
A técnica da litografia pode ser dividida em quatro etapas
básicas: Limpeza da matriz, para apagar a imagem anterior desenhada na pedra,
para que não haja interferências no seu desenho original. A segunda etapa é
desenhar sobre a pedra com materiais ricos em gordura, mas antes é necessário
traçar uma margem de tamanho variado, com goma arábica. Uma vez a goma
espalhada na pedra, a área atingida não receberá gordura. Aqui a criatividade
do artista atua, além dos métodos tradicionais de desenho sobre pedra, pode-se
usar lâminas e pontas-secas para adicionar textura, marcas com papel carbono,
aguada, entre outros. A terceira etapa é o entintamento, em processos que fixam a
gordura na superfície da pedra, evitando que esta se espalhe pelas áreas
brancas, descaracterizando o desenho. A última etapa é a impressão, as
primeiras tentativas são consideradas testes. A espessura da pedra deve ser de
pelo menos 5 centímetros, para evitar rachaduras. O papel é colocado sobre a
pedra, de maneira alinhada. Usa-se uma prensa manual própria para a litografia
que exerce forte pressão.
Alphonse
Mücha – Job – 1896 – litogravura
Alphonse Mücha - F. Champenois Imprimeur-Éditeur – 1897
–litogravura
A Serigrafia começa a ser aplicada mais frequentemente por
artistas na segunda metade do século XX. Como as técnicas descritas acima, também
a serigrafia apresenta diversas técnicas de gravação de imagem. Uma delas é a
gravação por processo fotográfico. Imagens são gravadas na tela de poliéster e
com a utilização manual de um rodo com a tinta a imagem é transferida para o
papel.
Victor Vasarely – Sem Título – serigrafia – 95,2 x 98,5 cm
Serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão no qual
a tinta é vazada, pela pressão de um rodo ou puxador, através de uma tela
preparada. A tela (Matriz serigráfica), normalmente de poliéster ou nylon, é
esticada em um bastidor (quadro) de madeira, alumínio ou aço. A
"gravação" da tela se dá pelo processo de fotossensibilidade, onde a
matriz preparada com uma emulsão fotossensível é colocada sobre um fotolito,
sendo este conjunto matriz+fotolito colocados por sua vez sobre uma mesa de
luz. Os pontos escuros do fotolito correspondem aos locais que ficarão vazados
na tela, permitindo a passagem da tinta pela trama do tecido, e os pontos
claros (onde a luz passará pelo fotolito atingindo a emulsão) são
impermeabilizados pelo endurecimento da emulsão fotossensível que foi exposta a
luz.
Carlos Scliar - Carlos Gomes – serigrafia
É utilizada na impressão em variados tipos de materiais
(papel, plástico, borracha, madeira, vidro, tecido, etc.), superfícies
(cilíndrica, esférica, irregular, clara, escura, opaca, brilhante, etc.),
espessuras ou tamanhos, com diversos tipos de tintas ou cores.
Rubens Gerchman - Beijo X - Serigrafia - 65x90
Alguns artistas iniciaram um importante trabalho de
transformar um meio mecânico, cujas qualidades gráficas se limitavam às
impressões comerciais, numa importante ferramenta para desenvolver seus estilos
pessoais. O sentido desse esforço inicial estendeu-se aos artistas dos anos
1950, incluindo os expressionistas abstratos e os action painters, como Jackson
Pollock. Foram ressaltados, entre outros, dois pontos básicos da técnica: sua
extrema adaptabilidade que permite a aplicação sobre qualquer superfície
inclusive tridimensional, muito conveniente para certas tendências artísticas e
suas especificidades gráficas próprias, ou seja características gráficas que
apenas a serigrafia pode proporcionar.
Carybé - Os Acrobatas - Serigrafia - 70x100
Da necessidade de artistas como Rauschemberg, Rosenquist,
Warhol, Lichtenstein, Vasarely, houve o desenvolvimento contemporâneo do
processo em aplicações artísticas. Novos conceitos foram associados às idéias
tradicionais e o estigma "comercial" da serigrafia tornou-se uma questão
ultrapassada.
Yutaka Toyota - Sem título - Serigrafia - 30x30
Monotipia:
É uma técnica de gravura em que se faz apenas uma impressão,
portanto não é um múltiplo, mas sim uma obra única. Esse blog possui um artigo
sobre monotipia. Clique sobre o link abaixo para abrir:
Texto escrito e/ou traduzido e/ou adaptado ©Arteeblog - não
copie esse artigo sem autorização desse blog, mas compartilhe usando os ícones
de compartilhamento para e-mail ou redes sociais.
Gostei bastante! É esclarecedor para um principiante.Os exemplos são ótimos!
ResponderExcluirMuito obrigada Semiramis Paterno. Estamos no Facebook em www.facebook.com/arteeblog, no Twitter @arteeblog e no Instagram @arteeblog. Se puder, curta lá e compartilhe essa e outras postagens, ajudando a divulgar. Abçs
ExcluirExcelente, obrigado por compartilhar essas informações. Aprendi muito!
ResponderExcluirMuito obrigada por seu comentário, Márcio Cavalcante. É muito bom saber que o artigo foi útil. Se quiser, por favor curta a página do Facebook www.facebook.com/arteeblog e ajude a divulgar. Obrigada.
ExcluirObrigada! Muito bom o seu conteúdo. Estou fazendo Artes Visuais e sem dúvidas um ótimo resumo sobre gravuras.
ResponderExcluirEliane, muito obrigada por seu incentivo. É uma satisfação saber que o blog é útil. Felicidades a você!
Excluiradorei o artigo, muito didático e esclarecedor! grata por compartilhar!!!
ResponderExcluirObrigada Claudia. É muito gratificante para mim, saber que meu artigo foi apreciado. Se puder, curta a página do blog no Facebook www.facebook.com/arteeblog ou no Twitter @arteeblog ou no Instagram @arteeblog e ajude a divulgar, compartilhando com seus amigos.
ExcluirRoy Lichtenstein - Girl with Hair Ribbon – 1965, não é uma litogravura, é uma pintura.
ResponderExcluirKarina, obrigada por seu comentário. Roy Lichtenstein, assim como muitos outros artistas, fazia pinturas sobre tela e também reproduziam as mesmas em gravuras. Essa é uma delas. Encontrei o site de uma Casa de Leilões que tem uma dessas litografias à venda. Copio aqui o link para o site e a descrição do lote. Faço isso apenas como pesquisa, pois não recebo nenhum valor monetário por isso. O texto do lote é: "
ExcluirRoy Lichtenstein (American, 1923-1997). "Girl with Hair Ribbon". Color offset lithograph. 1993. Signed in black pen, lower center. Edition unknown, presumed small. White wove paper. The full sheet. Fine impression. Very good condition. Literature/catalogue raisonne: Doering/Von der Osten 156. A scarce poster. Only one auction record in the past 25 years located. Image copyright © Estate of Roy Lichtenstein. Overall size: 28 1/4 x 24 in. (718 x 610 mm). Image size: 23 x 23 in. (584 x 584 mm)." E o site é: https://www.liveauctioneers.com/item/50256945_roy-lichtenstein-girl-with-hair-ribbon-offset-litho
excelente texto!!
ResponderExcluirObrigada Helaine!
ExcluirÉ tão bom quando procuramos alguma coisa e entramos logo de primeira e tudo bem explícito,amei ❤️
ResponderExcluirMuito obrigada, cada dia aprendo mais
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