Tomie Ohtake
Homenagem a Tomie Ohtake (Quioto, 21 de Novembro de 1913 - São Paulo, 12 de Fevereiro de 2015)
“Não gosto de coisas pequenas, nem de pintar com a ponta dos
dedos. Uso o corpo todo” - Tomie Ohtake
Tomie Ohtake é considerada a “dama das artes plásticas
brasileiras” pela carreira consagrada, construída ao longo dos últimos
cinqüenta anos, e pelo estilo ímpar de enfrentar a obra e a vida, nas quais
força e suavidade têm o mesmo significado. A fama conquistada, desde a década de
60, nunca modificou o desafio a que se propõe: o eterno reinventar.
Tomie Ohtake - Sem título - 1953
- óleo sobre tela - 54 x 65 cm
A capacidade de renovação de Tomie está expressa nas diferentes
fases de sua pintura e nas suas composições de gravura e escultura. É dessa
intenção intuitiva permanente que brotam o frescor e o esplendor de sua arte
celebrada pela crítica e pelo público até hoje, com sua vigorosa produção
recente. “Sua poética ao invés de declinar, germina em outras direções e aos 89
anos, de Tomie Ohtake pode-se dizer que o outono cede espaço à primavera”,
escreve o crítico Agnaldo Farias (abril, 2003).
Tomie Ohtake - Sem Título - 1954 - óleo sobre tela
A partir de 1953, as
obras começam a tomar um caminho mais abstrato. Figuras dão lugar a formas e
campos de cor, organizados sobre malha geométrica. "A abstração permite
uma maior liberdade para se organizar o espaço da tela", disse a artista
em entrevista em 2006
Nascida no Japão (Kioto/1913), Tomie chega ao Brasil em 1934
e só começa a pintar aos 40 anos de idade, construindo uma trajetória como poucos
artistas brasileiros conseguiram. Os anos 60, quando se naturalizou brasileira,
foram decisivos para a sua maturação como pintora originária da abstração
informal. O domínio da esfera técnica de seu trabalho foi então confluindo com
sua personalidade, passando a servi-la plenamente. O controle do processo coincidiu
com uma nova orientação dada progressivamente ao trabalho, segundo o qual ela
foi substituindo a imaterialidade aparente de suas telas pelo estudo da relação
forma-cor.
Tomie Ohtake sendo apresentada por Pietro Maria Bardi á Rainha Elisabeth II da Inglaterra no dia da inauguração do Masp (Museu de Arte de São Paulo) em 7 de Novembro de 1968, em São Paulo, Brasil
Tomie Ohtake recebendo o Prêmio Probel de Pintura no Museu de Arte Moderna de São Paulo em novembro de 1960. À direita, Ciccillo Matarazzo. Foto: Athayde de Barros
Entre formas ovais, retangulares, cruciformes, quadradas -
sugerindo a idealidade de uma figura geométrica ou de um signo qualquer –
colocadas isoladamente, justapostas ou em série, ficava sempre preservada a ambigüidade
perturbadora entre elas e o espaço da tela. Efeito que se obtém, por exemplo,
na tensão entre a forma que se agiganta até praticamente encobrir o espaço; na
maneira como este espaço insinua-se pelas frestas da forma; enfim, no confronto
incessante entre esses dois termos e que se acentua, já nos anos 70, quando
finalmente o espaço branco é tomado pela cor e se apresenta como forma.
A linha tubular suspensa de Tomie Ohtake na 23ª Bienal
(1996). No térreo, obra de Anish Kapoor. No primeiro pavimento à esquerda, obra
de Jesús Rafael Soto e ao fundo, no terceiro andar, painel de Sol Lewitt. Foto:
Fernando Chaves
Tomie Ohtake - Sem título -1964 - óleo sobre tela
No
decorrer da década de 60, pinceladas gestuais passam a ser substituídas por
áreas mais delimitadas. Formas retangulares e quadradas começam a ser mais
frequentes em sua obra, dialogando com o abstracionismo geométrico
A linha curva, em associação a uma refinada fatura cromática,
mais difusa e “cósmica”, como a ela se refere o crítico Miguel Chaia, introduz sobretudo
a partir dos anos 80, novas referências ao trabalho da artista: da alusão à
natureza e suas formas orgânicas; do céu às sementes; da paisagem às frutas; do
sensual ao francamente sexual. As telas, ao invés dos planos coloridos
chapados, são compostas de manchas justapostas e sobrepostas, solução que as
transforma em campos em transformação constante. Dos anos 90 em diante, a
transparência e a profundidade se acentuam e a pintura de Tomie parece emanar
do espaço sideral.
Tomie Ohtake - "Ondas" - Escultura comemorativa dos 80 anos de imigração japonesa no canteiro central da Avenida 23 de Maio, São Paulo, Brasil (1988)
Tomie Ohtake - Sem titulo - 1991 - acrílico sobre tela
Entre o final da década de 80 e os anos 90, pinceladas e texturas voltam a ser elemento importante da produção de Tomie
A gravura é outra técnica que a artista domina desde o final
dos anos 60 e que resulta também em um trabalho extremamente maduro e inovador:
faz série em grandes formatos, transforma a gravura em objeto e, ainda, recentemente,
produz obras que avançam de um plano ao outro, ortogonal, criando, nesta confluência
de 90 graus, um espaço novo para a sua arte. Com este seu experimentalismo
incomum para a técnica milenar, suas gravuras também ganharam reconhecimento
internacional, desde 1972, quando foi convidada a participar da sala Grafica
D’Oggi na Bienal de Veneza - exposição que contou com a presença dos mais importantes
artistas do mundo, como os norte-americanos da Pop Art -, além de sua
participação na Bienal de Gravura de Tóquio, em 1978, tradicional mostra
internacional desta técnica.
Tomie Ohtake - Painel em tapeçaria - 1990
Localizado no auditório Simón
Bolívar do Memorial da América Latina, o painel em tapeçaria ocupa uma área
total de aproximadamente 800 m². A obra foi parcialmente danificada em um
incêndio ocorrido no auditório em 2013. Assim que soube dos danos, Tomie Ohtake
disse que recuperaria a obra. "O grande mural é um desenho com muitas
linhas que se compõem numa grande forma, atravessando como num só gesto, todo o
comprimento do auditório. Ver depois de pronto um painel com aquelas dimensões,
feito em tapeçaria a partir de um desenho gestual, é uma grande emoção!",
afirmou a artista em depoimento publicado no livro "Integração das
Artes" - Foto: Instituto Tomie Ohtake/Divulgação
Tomie Ohtake - Escultura metálica - 2004
Localizada no interior do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, a intervenção-escultura dialoga com a arquitetura de Oscar Niemeyer
Além da pintura e da gravura, Tomie tem realizado esculturas
em grandes dimensões para espaços públicos e, desde a 23ª Bienal Internacional
de São Paulo, em 1995, quando teve uma sala especial de esculturas, vem
expandindo sua produção tridimensional. Hoje, 27 obras públicas de sua autoria
fazem parte da paisagem urbana de algumas cidades brasileiras. Em São Paulo,
parte delas se tornaram marcos paulistanos, como os quatro grandes painéis da
Estação Consolação do Metrô de São Paulo, a escultura em concreto armado na avenida
23 de maio e a pintura em parede cega no centro, na Ladeira da Memória.
Tomie Ohtake - Sem título - 2007
Tomie Ohtake - Sem título - 2009
Prestes a completar 100 anos, a artista se concentra em formas circulares. A figura e o fundo se confundem
Desde a década de 60, a participação da obra de Tomie nos
principais espaços da arte nacionais e internacionais se amplia permanentemente.
Está presente em cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, conquista 28
prêmios, realiza cerca de 50 individuais e 85 coletivas, no Brasil e no
exterior. No País, torna-se um fenômeno raro, alcançando uma popularidade incomum
para um artista plástico cuja obra ao mesmo tempo é respaldada pelos principais
críticos de arte. Um exemplo disto foi a sua marcante primeira retrospectiva realizada
no Museu de Arte de São Paulo - MASP, em 1983, quando, até então, o professor
Bardi nunca havia assistido, no museu que dirigia, um sucesso tão estrondoso
para uma mostra individual, quando na abertura compareceram mais de 4.000 pessoas.
Hoje, a relevância de Tomie no cenário das artes plásticas brasileiras
reafirma-se na abertura de um centro cultural com seu nome, o Instituto Tomie
Ohtake, homenagem extraordinária a um artista em franca produção.
Monumento Tomie Ohtake no Parque Municipal Roberto Mário Santini no emissário
submarino (José Menino) em Santos, São Paulo – 2008 – inaugurado pelo Príncipe
Naruhito do Japão
Tomie Ohtake - Sem título - 2012
Tomie trabalha a organicidade de formas circulares buscando a essência monocromática nas cores puras
Tomie Ohtake - Sem título - 2013
Tomie Othake - painéis "Quatro estações" - na estação Consolação de metrô em São Paulo
“A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral,
tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria
de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar
em nosso olhar um haicai perdido”, escreve o crítico Paulo Herkenhoff, curador
do MoMA Museum of Modern Art, Nova York (setembro, 2002).
Entrada do Instituto Tomie Ohtake - foto: ©Design&MuitoMaisARTE
Texto: Instituto Tomie Ohtake: http://www.institutotomieohtake.org.br/tomie/teartista02.htm
A tapeçaria da Tomie que está no auditório do Memorial da AL foi integralmente restaurada. Está linda!
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